"No azul menos pálido e menos azul, que se espelha nos
prédios, entardece um pouco mais a hora indefinida.
Cai leve, fim do dia certo, em que os que crêem e erram
se engrenam no trabalho do costume, e têm, na sua própria
dor, a felicidade da inconsciência. Cai leve, onda de luz que
cessa, melancolia da tarde inútil, bruma sem névoa que entra
no meu coração. Cai leve, suave, indefinida palidez lúcida e
azul da tarde aquática — leve, suave, triste sobre a terra
simples e fria. Cai leve, cinza invisível, monotonia magoada,
tédio sem torpor."
prédios, entardece um pouco mais a hora indefinida.
Cai leve, fim do dia certo, em que os que crêem e erram
se engrenam no trabalho do costume, e têm, na sua própria
dor, a felicidade da inconsciência. Cai leve, onda de luz que
cessa, melancolia da tarde inútil, bruma sem névoa que entra
no meu coração. Cai leve, suave, indefinida palidez lúcida e
azul da tarde aquática — leve, suave, triste sobre a terra
simples e fria. Cai leve, cinza invisível, monotonia magoada,
tédio sem torpor."
*Por: (Fernando Pessoa) - Livro: Desassossego -
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