Perto de completarmos 19 anos de
fundação da nossa empresa (Sett vídeo locadora), deparamo-nos com uma realidade
assustadora: a falta de perspectiva no futuro. É lamentável a conclusão que se
estende por anos. Uma avalanche de tentativas desesperadas de restabelecer os
alicerces do mercado de vídeo, as inúmeras alternativas criadas pelos proprietários
(sonhadores), poço afirmar, que quase nada de substancial foi feito pelas
produtoras e distribuidoras para que esse fim fatídico não chegasse. Balançamos
nas próprias pernas, sempre fomos marcados por descaso das mencionadas
empresas, forçados a comprar pacotes fechados, se quiséssemos obter algum
desconto e prazo razoável para trabalharmos com margem de recuperação nas
locações. Isso sempre questionei com os representantes.
As margens de mais um fim de ano,
desestimulado com os negócios da vídeo locadora, lembro-me com certo saudosismo
os bons momentos que vivemos aqui na Sett Vídeo Locadora. Foram tempos de plena
felicidade, otimismo nas alturas, projetos de ampliação, valorização dos
clientes com sorteios durante o ano e de aniversário. Muitos foram os prêmios que
ao longo desses dezenove anos distribuímos com nossos parceiros e amigos.
Iniciamos nossas atividades no dia 21
de Novembro de 1994, as 13 h, trabalhamos muito fazendo inscrições de novos sócios.
Mas como todo início, nada foi fácil. Iniciamos
com 392 títulos, onde tínhamos alguns poucos lançamentos, entre eles; “Quatro
Casamentos e Funeral”, “Risco Total”. No primeiro mês abríamos de Segunda a
Domingo, na pretensão de nos fazer conhecidos na região. Mas ficávamos sem títulos
para atendermos no Domingo, era gratificante demais atender a quem nos
procurava.
No decorrer dos primeiros seis meses
iniciamos a nossa (fase - I) ampliação
da área física da loja. Um ano depois subíamos o nosso primeiro andar, e no ano
seguinte o nosso segundo pavimento, mas nunca chegamos a terminá-los
devidamente. Aí, nessas alturas, a crise no mercado já havia se instalado, já ruía
alguns sonhos, o país se rendia aos processos de pirataria comercial, aquelas
feitas por camelôs, uma praga que segue até os dias atuais. Com essa prática e com
os preços aplicados pelos DVDs falsificados, conhecidos popularmente como
alternativos, vieram os comentários: “Com o valor da locação eu compro dois títulos
no Shopping Popular...”. Outra questão que alarmou os comerciantes do ramo foi à
facilidade trazida com a concorrência das TVs a cabo, e, também, as condições
facilitadoras na aquisição de computador. Os famosos “Downloud” de filmes. Tragédia
anunciada! Muitos, como eu, negaram-se acreditar que isso traria efeitos tão
desastrosos para o setor em
questão. Mas não, foi o pressagio de um “The End”, que tantos
vimos em nossos memoráveis filmes desde a época dos saudosos vídeos “Betamax” da
Sony (os pioneiros do sistema em Fita de vídeo). Época inclusive que fui
gerente de vendas da primeira Vídeo Locadora, mas conhecida naquela ocasião
como Vídeo Clube, nome mais apropriado a meu ver.
Pois é, os anos se passaram e os
ventos sopraram contra, bateu forte á este bordo, fazendo com que cada
comandante de empresa do gênero fizesse a sua parte para não naufragar ou ficar
a deriva. Mas o mar revolto dos negócios, as crises no mundo financeiro, as
ineficientes ações das poderosas produtoras, serviram como ponta de um enorme iceberg,
parecido com aquele do filme “Tinatic”, com Kate Winslet e Leonardo DiCaprio,
lembra-se?
Certamente que já lançamos os nossos
botes salva-vidas, contudo, nada nos deixa mais triste do que a realidade que
congela nossas almas, nossos sonhos, nossos valores. Hoje, estamos para o
mercado de vídeo tal qual o grande filme “E o Vento Levou”. Triste fim!
Muitos iram dizer que a crise é
passageira, que uma hora dessas tudo voltará ao lugar, nada disso. Os que estão
aí são visionários, idealistas declarados, apaixonados serviçais da atividade do
lazer, do divertimento através de um bom filme de ação, uma divertida comédia,
bons saltos no sofá com um suspense tipo “Pânico”, uma ação de tirar o fôlego “Risco
Total”, “O Exterminador do Futuro”, “Rambo”, a quem escolha um excelente
romance “Uma Linda Mulher”, “Se Houver Amanhã”, choro e pipoca combinam bem, eu
sei!
Utopicamente, diria eu, não sei o que
futuro reserva pra esse mercado, haja vista os grandiosos números de canais de
filmes das TVs oferecidas em inúmeras concorrências, os sites que oferecem
recursos grátis para baixar filmes ainda em lançamentos, e até os que ainda não
chegaram aos cinemas da cidade. Um tapa na nossa cara!!!
Os mais céticos afirmam que os dias
estão contados, não há mais volta, nada mudará o que está aí, é daí pra pior. Portanto,
aos persistentes e apaixonados pelo negócio de vídeo locadora, resta somente a
sua perseverança, a sua autoestima, a determinação de buscar a cada novo abrir
de loja um raio de sol e esperança noutro amanhecer, noutro... Enfim.
Aos que compartilham e curtem o nosso
trabalho apaixonado, deixo aqui em meu nome, meu mais sincero respeito e
carinho.
Atenciosamente,
Marcos Mendes
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