MÃOS ESCULTURAIS
Além deste olhar vencido
Cheio dos mares negreiros
Fatigado
E das cadeias aterradoras que envolvem lares
além do silhuetar mágico das figuras
Nocturnas
após cansaços em outros continentes dentro de África
Além desta África
De mosquitos
E feitiços sentinelas
De almas negras mistério orlado de sorrisos brancos
Adentro das caridades que exploram e das medicinas
Que matam
Além África dos atrasos seculares
Em corações tristes
Eu vejo
As mãos esculturais
Dum povo eternizado nos mitos
Inventados nas terras áridas da dominação
As mãos esculturais dum povo que constrói
Sob o peso do que fabrica para se destruir
Eu vejo além África
Amor brotando
Virgem em cada boca
Em lianas invencíveis da vida espontânea
E as mãos esculturais entre si ligadas
Contra as catadupas demolidoras do antigo
Além deste cansaço em outros continentes
A África viva
Sinto-a nas mãos esculturais dos fortes que são povo
E rosas e pão
E futuro.
*Por: Agostinho Neto (Angola)
25 de Maio de 2009 22:54
OBS: O meu amigo Angolano, Emerson Marcos, fez um "post" desse lindo poema do "Agostinho Neto". É, sem dúvida, um texto lindo e verdadeiro, profundo, com raízes na dor da alma dos africanos massacrados, invadidos nos seus direitos humanos e na sua dignidade. Vale conferir a beleza poética deste grande ex-presidente de Angola e tradutor literário da agonia de um povo.
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